Com a produção industrial brasileira acumulando queda de 3,8% no primeiro semestre de 2012, e o emprego no setor em baixa de 1,2% no mesmo período, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), está criado um cenário difícil para as negociações salariais de categorias industriais com data-base neste segundo semestre.
Empresários dos setores metalúrgico, químico, têxtil e de alimentos são unânimes: com margens reduzidas, as indústrias não poderão oferecer qualquer aumento real nos salários, e mesmo a reposição da inflação será um desafio. Já os trabalhadores, reconhecendo as dificuldades conjunturais, defendem que a melhor estratégia de enfrentamento da crise é preservar empregos e salários para manter a economia aquecida.
Metalúrgicos
Com data-base em 1º de setembro, os trabalhadores representados pela Federação dos Sindicatos de Metalúrgicos da Central Única dos Trabalhadores de São Paulo (FEM-CUT-SP) acreditam que este ano as conversas à mesa de negociação devem ser tensas. “Sem dúvida, com a situação econômica internacional e o alto nível de importações, a tendência é termos um cenário de negociações mais duro”, afirmou a assessoria de imprensa da federação.
A entidade não divulga os indicadores em negociação, mas entre as reivindicações constam licença-maternidade de 180 dias, piso único para os metalúrgicos de diferentes segmentos, tendo como base os maiores valores, e a redução da jornada de trabalho para 40 horas, mesmo que concedida de forma escalonada.
Com 75,5 mil trabalhadores, representando 30,2% da base da entidade, os metalúrgicos dos setores de máquinas e eletrônicos enfrentarão a resistência dos empresários. “O setor de bens de capital vem passando por uma depressão desde o final do ano passado, com a perda de 7 mil postos de trabalho de lá para cá”, diz o diretor-executivo da área de Relações do Trabalho do Sindicato Nacional da Indústria de Máquinas (Sindimaq), Hiroyuki Sato.
“Não há condição de oferecer nada de ganho real, está difícil para as empresas mesmo a concessão da reposição inflacionária”, afirma, dizendo que os preços do setor estão depreciados pela competição com importados. Segundo ele, em 2011, o aumento real dos trabalhadores foi de 2,4%, mas esse índice não deve se repetir esse ano. Com isso, ele prevê a ocorrência de greves no setor.
Químicos
Os trabalhadores do setor químico ainda estão definindo sua pauta de reivindicações, posto que a data-base da categoria é apenas em 1º de novembro. “Mas é certo que além da reposição da inflação será pleiteado um aumento real”, afirma a assessoria de imprensa do Sindicato dos Químicos de São Paulo. Além do reajuste, os químicos reivindicam jornada de trabalho de 40 horas, sem redução salarial, para ampliar a oferta de vagas no setor.
“Nos seis primeiros meses de 2012, a indústria química cresceu 4,61% em produção e 8,7% em vendas internas. No mesmo período, os preços foram corrigidos em 6,7%. A indústria de plásticos cresceu 6,4% em 2011 e os preços dos produtos aumentaram 5,3%, em média”, diz o diretor sindical Nilson da Silva. Em 2011, a categoria conquistou 10,1% de reajuste, com 3,24% de ganho real.
O consultor jurídico do Sindicato das Indústrias de Produtos Químicos (Sinproquim), Enio Jaques, diz que o cenário este ano é diferente. “As indústrias químicas não estão passando por um bom momento em 2012, influenciadas pelo mau desempenho da economia nos países em que as empresas têm sede”, diz. “Um aumento real semelhante ao do ano passado será difícil”, acredita.
Têxteis
Empresários e trabalhadores da região de Americana (SP) – maior polo têxtil do País, responsável por 85% da produção nacional de tecidos – concordam que este será um ano difícil para as negociações. Pressionadas pela entrada de importados, as empresas registram queda na produção, redução de turnos e demissões.
“As indústrias têxteis vivem um período de retração. Comparada ao ano passado e a 2010, a situação está mais difícil para as empresas”, diz o assessor de imprensa do Sindicato dos Trabalhadores Têxteis de Americana, Luciano Domiciano. Segundo ele, em 2011, a categoria obteve aumento real de 1,5%. Com data-base em 1º de novembro, os trabalhadores têxteis reivindicarão a reposição da inflação até o mês de outubro e 50% da inflação do período como aumento real.
O presidente do Sindicato das Indústrias de Tecelagens de Americana, Nova Odessa, Santa Bárbara D´Oeste e Sumaré (Sinditec), Fábio Beretta Rossi, não vê a possibilidade de ganho real para os trabalhadores em 2012. “Acredito que este ano o aumento real de salários ficará próximo de zero”, afirma. O empresário lembra que os trabalhadores têxteis da região receberam aumentos de 1% a 1,5% acima da inflação nos últimos anos. “Será difícil que isso se repita este ano, pois de janeiro a julho, a região já fechou cerca de 2 mil postos de trabalho no setor têxtil”, relata.
Alimentos
Os trabalhadores da “Capital Nacional do Alimento”, Marília (SP), estão otimistas para as negociações salariais dos segmentos com data-base em 1º setembro, entre elas o plúrimo (indústrias de biscoito, mandioca, pesca, vinho, água mineral, óleo, cacau, balas e massas), laticínio, torrefação de café e padaria. “No segundo semestre, as empresas começam a produzir para o Natal, então a perspectiva é que tenha uma reação do mercado”, acredita o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação e Afins de Marília (Stiam), Wilson Manzon.
De acordo com o sindicalista, nos segmentos com data-base em maio, o reajuste médio foi de 7%, com aumento real entre 1,57% e 2%. Para as categorias com data-base em setembro, a reivindicação será de aumento real de 10%, Participação nos Resultados e Lucros (PRL) de R$ 1,5 mil, jornada de trabalho de 40 horas semanais e cesta básica de 50 kg ou vale alimentação de R$ 150. Os trabalhadores esperam maior dificuldade de negociação no segmento de laticínio.
Os empresários confirmam esta percepção. “O setor de laticínio está sem lucratividade, com muito custo de matéria-prima, que não consegue repassar ao varejo”, diz o presidente do Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados no Estado de São Paulo (Sindileite), Carlos de Carvalho. “A intenção é não dar aumento real e o ideal seria o reajuste ficar até abaixo da inflação”, afirma, lembrando que, em 2011, o aumento real dos salários do setor ficou próximo a 2%. “Nos últimos dez anos, sempre houve aumento real, mas este ano não temos margem para isso”, reitera.