O primeiro socorrista a descer até a mina de San José para resgatar os 33 mineiros que ficaram 70 dias presos relatou ao jornal chileno “La Tercera” que o local não contava com elementos mínimos de segurança.
“Estive 25 horas lá embaixo, a uma temperatura de 40ºC. Imagine o que é viver 70 dias nessas condições. Havia uma umidade próxima aos 100%. As pessoas andavam seminuas. Foi impressionante para nós”, afirmou Manuel González, que trabalha na Codelco — estatal do cobre chilena.
“Trabalhar a essa temperatura durante 12 horas… Acho que nenhum ser humano poderia voltar a fazê-lo”, afirmou González, que foi também a última pessoas a deixar a mina, já depois da 0h de ontem (14).
“Imagino os primeiros 17 dia em que não sabiam nada do mundo. Deve ter sido terrível”, afirmou González ao periódico chileno.
O também socorrista Francisco Sepúlveda relatou “um calor e uma umidade muito grandes, uma brisa quente que penetrava o corpo” ao entrar na mina.
Sepúlveda afirmou ainda que o líder do grupo, Luis Urzúa, o último mineiro a sair, o levou para conhecer o restante da mina enquanto a cápsula Fênix 2 realizava viagens. Também relatou a falta de segurança do local.
ALTAS
Ontem à noite, os três primeiros trabalhadores, Edison Peña, Juan Illanes e o boliviano Carlos Mamani, deixaram o hospital de Copiapó para onde o grupo de 33 mineiros foi levado após o resgate.
Quando Peña chegou em casa, um mar de jornalistas e curiosos o receberam, querendo ouvir sua história até o momento em que conseguiu chegar à porta. “Estou bem, estou super saudável, por isso sou um dos três primeiros a sair”, explicou.
Depois de abrir caminho em meio à multidão, ele disse: “Não somos artistas nem nada, somos gente comum e normal”.
Peña, 34, solteiro, foi o 12º a chegar à superfície. Na primeira gravação, expressou seu desespero ao dizer: “Quero sair logo”.
Já Juan Illanes foi o terceiro a ser resgatado. Aos 52 anos, o mineiro é casado e um veterano do conflito na fronteiro que quase gerou uma guerra entre o Chile e a Argentina, em 1978.
Finalmente, Carlos Mamani foi o quarto a ser resgatado. Boliviano de 23 anos, é operador de maquinário pesado, casado com a também boliviana Verónica Quispe e pai de uma filha de poucos meses. É o único do grupo que não é chileno.
Para esta sexta-feira são esperadas as altas de mais um grupo de mineiros.
SAÚDE
Inicialmente, estimava-se em ao menos 48 horas o tempo de observação no hospital, mas o bom estado de saúde da maioria deles antecipou algumas saídas.
O mineiro mais velho, Mario Gómez, de 63 anos, no entanto, sofre de uma pneumonia aguda, segundo um dos médicos responsáveis pelo resgate, Jean Romagnoli, mas reage muito bem aos antibióticos que começou a tomar três dias antes do resgate.
Três mineiros passaram na quarta-feira por cirurgia dentária, com anestesia geral, por causa de infecção, mas todos “evoluíram muito bem”, disse ele, sem dar nomes.
Foram 69 dias de reclusão a 622 metros de profundidade –17 dias sem que o mundo lá fora soubesse se estavam vivos ou mortos. Após quase 23 horas de esforços, o Chile completou a operação de resgate sem precedentes, e os 33 mineiros ganharam a atenção do mundo, num misto de heróis com celebridades.
E em pouco mais de 25 horas no total, os seis socorristas enviados para ajudar os mineiros também foram içados de volta à superfície.