Por Guilherme Soares Dias | Valor Econômico
SÃO PAULO – Emprego perto de casa. Esse é o sonho das cerca de 4 milhões de pessoas que vivem na Zona Leste de São Paulo. Em Itaquera, a 17 quilômetros do centro, existem cerca de 134 mil empregos nos quatro distritos da região, insuficientes para os 550 mil moradores.
Com a realização dos jogos da Copa do Mundo 2014 no bairro, que abrigará o Itaquerão (clique para ver o andamento das obras), os moradores esperam que sejam criados novos empregos para que não precisem mais gastar horas de deslocamento em trens, metrôs e ônibus para trabalhar em outras regiões da capital paulista.
Deslocamento difícil
A Linha 3-Vermelha do metrô, que corta a Zona Leste, por exemplo, é a mais lotada da cidade, movimentando 400 mil passageiros a mais por dia do que sua capacidade de transporte, de 1 milhão de pessoas. A escriturária Lusimeire Souza da Silva, 45 anos, afirma que a estação Itaquera está sempre lotada e acredita que, se não houver ampliação, haverá “caos” em dias de jogos. “Já tem muita gente que passa por aqui. Quando tiver jogos, será insuportável”, acredita.
Lusimeire Souza da Silva, escriturária e usuária da estação Itaquera do metrô, que fica em Itaquera.
Moradora do bairro desde que nasceu, Lusimeire diz que nunca trabalhou perto de casa. “Gostaria que houvesse emprego aqui”, diz. O coletor Flávio Felix da Silva, 33 anos, vai para o trabalho com a camisa do Corinthians.
“Todo mundo aqui é timão”, diz. Os dados confirmam a percepção de Flávio, já que 41% dos moradores de Itaquera que torcem pelo time alvinegro, segundo pesquisa do Datafolha. Esse é o segundo maior percentual de corintianos em um bairro de São Paulo, atrás apenas de Jaçanã, na zona norte. Para ele, ter um estádio do seu time no bairro é “um orgulho” e diz que já sente mudanças. “Já há obras nas avenidas e valorizou as casas. Agora espero conseguir um trabalho por aqui”, diz ele, que trabalha no Ipiranga, na zona sul da cidade, e leva cerca de uma hora para chegar ao serviço.
Mais renda
A cabelereira Flávia de Oliveira, 30 anos, diz que é corintiana – “graças a Deus” – e afirma que os jogos já beneficiam a região. “Traz os olhos do governo para cá”, diz. Ela espera ainda maior movimento em seu salão de cabelereiros.
Flávia de Oliveira Francisco, cabelereira, usuária da estação Itaquera do metro, que fica em Itaquera, zona leste de São Paulo.
“Somos especialistas em cabelos afros e podemos passar a atender clientes de outras regiões”, diz. Para ela, a diferença dos jogos na região será a “alegria do itaquerense”. “São pessoas carentes e batalhadoras, mas que nunca perdem o sorriso no rosto”, diz..
O metrô não prevê a ampliação da estação Itaquera, construída em 1988, mas há projeto que ainda não possui recursos específicos para troca do teto, piso e nova sinalização. O investimento será de R$ 159 milhões para implementar um sistema de comunicação que vai permitir a redução de intervalos entre os trens da Linha Vermelha, aumentando a capacidade da linha. Hoje os trens circulam com intervalos de 101 segundos no horário de pico e, quando o projeto estiver concluído, em 2014, a expectativa é que esse tempo chegue a 80 segundos. O investimento também se estenderá à Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), que reduzirá o tempo entre um trem e outro de cinco para três minutos.
Trabalho nas obras
A 200 metros da estação do metrô, crescem as obras da Arena Corinthians, com investimentos de R$ 820 milhões. O estádio terá capacidade para 48 mil lugares, e mais 20 mil removíveis para cumprir as regras exigidas para abrigar a abertura da Copa do Mundo. Ao todo, 2,2 mil pessoas trabalham na obra, que está 52% concluída. Até dezembro de 2013, quando deve ser entregue, mais 100 trabalhadores devem ser contratados.
“A maior concentração é de pessoas da Zona Leste. Treinamos algumas pessoas da região para trabalhar na obra”, diz o engenheiro de produção Agnaldo Lima.
O baiano Edmilton Oliveira da Silva, 46 anos, morador do Parque do Carmo desde 1986, é um dos operários da obra. “Essa é a primeira vez que trabalho aqui perto. Não havia emprego e espero que a Copa possa gerar outros trabalhos também”, diz. Hoje, Silva utiliza a cerca de uma hora que economiza nos deslocamentos casa-trabalho para descansar.
Edimilton Oliveira da Silva, operario que trabalha nas obras do Estadio Itaquerao, do Corinthians, que fica em Itaquera, zona leste de Sao Paulo.
O estádio contará ainda com centro de convenções para cerca de três mil pessoas, além de bares, restaurantes, espaço para exposição, pequenos auditórios, lojas de material esportivo e museu, que funcionarão durante a semana, mesmo em dias que não houver jogos. “O estádio será um pólo de lazer e negócios da região, onde devem trabalhar cerca de mil pessoas”, acredita o vice-presidente do Corinthians, Luis Paulo Rosenberg.
As obras no entorno do estádio devem receber R$ 478 milhões, e preveem novas avenidas e viaduto de pedestre para levar os passageiros do metrô até o Itaquerão. Além das obras viárias serão construídos uma unidade da Faculdade de Tecnologia de São Paulo (Fatec), centro de convenções, polo tecnológico, todos previstos para serem entregues em março de 2014.
Cálculos da prefeitura apontam que o evento pode gerar receitas de R$ 1,5 bilhão para o município. Mas a atual Secretaria Especial de Articulação para a Copa do Mundo (Secopa), vinculada à prefeitura, foi procurada pela reportagem durante três semanas e não quis se pronunciar sobre a geração de empregos na região. A proposta faz parte do “Arco de Desenvolvimento” projeto de governo do prefeito eleito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), que prevê isenções ficais e investimentos para descentralização e criação de empregos na periferia.