Mesmo em tempos de padronização, tecnicidade e mercantilização das festas populares, onde o carnaval é vendido como um dos principais produtos de exportação do Brasil, a criatividade e sapiência populares consegue driblar este sistema rígido e fechado, propagando ao mundo sua mensagem.
Em suas manifestações culturais, a despeito da história contada na mídia e nos livros didáticos, na qual as elites são sempre as protagonistas, o povo, na forma concreta e unificada da expressão, reconhece e valoriza as lutas de seus irmãos.
O samba enredo Da Revolta dos Búzios à Atualidade da escola Nenê de Vila Matilde, por exemplo, resgata a história das lutas contra a opressão e pela igualdade social, passando pelos quilombos, pela luta pela terra, pela luta das mulheres, chegando até a luta sindical. São lutas inerentes e intrínsecas à sua própria formação enquanto povo. Desta forma os movimentos sociais e as festas populares estão ligados.
A ação sindical, desta forma, surge na avenida, em pleno carnaval, em seu esplendor e em sua força.
Confira samba enredo da Escola:
Da Revolta dos Búzios à Atualidade. Nenê Canta a Igualdade
Compositores:Cláudio Russo, J. Velloso, Ney do Cavaco, Marquinhos e Dr. Medina
Intérprete: Celsinho
Quando a igualdade não havia
A Revolta foi a via
Contra a força da opressão
Uma voz se ergueu outras mais então
Movimento que surgia…
Salve o povo da Bahia!
Sei que a rebeldia que trago no peito
Tenho direito de eternizar
O canto libertário que se espalha pelo ar
Lutar, acreditar, sonhar… ser mais Brasil
Criar a pátria amada mãe gentil
Há nos Búzios a mensagem de cada irmão
No Quilombo novos ares libertação
Em Canudos Conselheiro, e a sua fé
Cabanagem no Pará, na Nenê samba no pé
Vai o baticum do Olodum no pelourinho
Um só coração, um só caminho
Canto à igualdade, levo à união
Venço toda a discriminação
Sonhei que a terra é do agricultor
Cidadão encontrou o abrigo do lar
Eu vi a força unificando a luta sindical
Mulheres defendendo um ideal
De volta ao seu lugar a Zona Leste incendeia
O Anhembi vai levantar
A minha Vila tem sangue na veia
Chegou, chegou no templo do samba
O gueto da gente, a mais querida
No coração Matildense
Nenê é minha Águia, minha vida…