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Desemprego impulsiona aumento da população em situação de rua

Fonte: Observatório do terceiro setor

Juntas, as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro concentram mais de 30 mil pessoas nesta condição

Em todo o Brasil, 101 mil pessoas vivem nas ruas, de acordo com estimativas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). E esse número vem crescendo nos últimos anos, impulsionado pelo aumento do desemprego. 13,5 milhões de brasileiros fecharam o segundo semestre de 2017 fora do mercado de trabalho, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Com tantas pessoas desempregadas, aumentam os casos em que, sem condições de pagarem o aluguel, famílias inteiras acabam indo para as ruas.

“Ninguém nasceu morador de rua. O aumento dessa população é reflexo da crise econômica, mas a sociedade prefere encarar a condição como um fracasso individual, não como um problema na estrutura social”, explica a psicóloga Emilia Broide, uma das idealizadoras da Pesquisa Social Participativa Pop Rua.

Só na cidade de São Paulo, havia 15.905 pessoas nas ruas em 2015, segundo o último Censo da População em Situação de Rua . No Rio de Janeiro, os dados divulgados agora em 2017 falam em 15 mil pessoas, três vezes mais do que o número estimado em 2013, segundo a Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos (SMASDH) .

Além do desemprego, outros motivos que levam muitas pessoas às ruas são a ausência de auxílio ao saírem do sistema carcerário, problemas de saúde mental, alcoolismo, drogas e conflitos familiares. Imigrantes também têm cada vez mais ido parar nas ruas, por não encontrarem assistência e emprego.

Com tantos perfis diferentes entre essa parte da população, tornam-se necessárias políticas públicas que integrem ações em diferentes áreas, como habitação, saúde e educação. Políticas do tipo, no entanto, ainda estão longe de prioritárias na maioria dos municípios e as pessoas em situação de rua acabam muitas vezes desamparadas.

Para amenizar isso, surgem diversos projetos sociais que levam desde itens básicos, como comida e roupas, a essa parte da população, até iniciativas que tentam aumentar a autoestima das pessoas em situação de rua através do resgate de suas próprias histórias.

Anjos da Noite

Em São Paulo, durante uma noite chuvosa e fria, Kaká Ferreira estava voltando do trabalho quando viu um morador de rua, já idoso, usando apenas camiseta, short e chinelo. Kaká ofereceu roupas a ele e o chamou para comer. Na hora de se despedir, o senhor disse que ele era um “anjo da noite”.

Depois do ocorrido, Kaká conversou com um amigo para perguntar se ele gostaria de abrir uma ONG para auxiliar pessoas em situação de rua. No dia 22 de agosto de 1989, dois dias depois daquela noite, eles estavam na região central da cidade servindo alimentação para 100 pessoas.

Atualmente a ONG Anjos da Noite dá suporte a mais de 800 pessoas e a distribuição de comida ocorre em locais como o Mercado Municipal, o Parque Dom Pedro e a Praça da Sé.

“A ONG usa a alimentação como meio para atingir um objetivo maior. Através da entrega de comida, agasalhos, cobertores e, principalmente, amor, é possível resgatar a autoestima e reintegrar o morador de rua na sociedade”, afirma Kaká.

O criador da instituição também explica que, com a crise e o aumento da população em situação de rua, cresce a responsabilidade de ONGs como a dele. “Com o caos econômico, a população carente é a mais afetada. Se uma pessoa não tem roupa, comida e autoestima, como pode conseguir voltar à condição de cidadão? É preciso sair da mesmice e fazer mudanças na prática”, reflete Kaká.

No momento, a Anjos da Noite está desenvolvendo um projeto para criar um pavilhão com profissionais de diversas áreas, como saúde e Direito, para contribuir de forma ainda mais efetiva para a reintegração social dos atendidos.

Rio Invisível

O coletivo Rio Invisível começou em setembro de 2014. Os fundadores, Nelson Pinho e Isadora Monteiro, se inspiraram na iniciativa do SP Invisível. O trabalho consiste em divulgar informações sobre a população de rua e em contar as histórias de pessoas que vivem nessa condição, tentando tirá-las da invisibilidade.

“Falar sobre a história dos moradores significa ser mais ativo na luta pelos direitos humanos e divulgar a realidade dessa população vulnerável. A sociedade tem um preconceito velado, mas é preciso combater de maneira feroz e se colocar no lugar do outro”, afirma Nelson Pinho.

Pinho também destaca a importância de olhar para as populações mais vulneráveis, diante do cenário complicado que o país vive na política e em questões como a intolerância. “A política está nebulosa em garantia de direitos, então é preciso lutar para assegurá-los. A luta das minorias deve ser uma base para que a sociedade em si se transforme e seja menos desigual”, destaca Nelson Pinho.

O projeto pretende buscar novas mídias para a divulgação das histórias e continuar com a página em parceira com outros coletivos.