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Tiro certo nos juros

Autor: Miguel Torres

Correio Braziliense (22.05.12)

Presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos, do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes e presidente em exercício da Força Sindical

A decisão da presidente Dilma Rousseff de mudar as regras da poupança popular, sem agredir direitos dos atuais poupadores, para garantir assim a queda dos juros básicos da economia, começa a pôr fim à verdadeira guerra que a Força Sindical empreendeu contra os ministros da Fazenda e presidentes do Banco Central ao longo de pelo menos duas décadas.

Perdemos a conta de quantas vezes pedimos “a cabeça” do presidente do então do BC Henrique Meirelles e dos ministros Pedro Malan, de FHC, e Antonio Palocci e Guido Mantega, de Lula, por causa dos juros, cujas taxas estratosféricas impedem o desenvolvimento e ajudam a enriquecer rentistas e especuladores, que não passam de 5 mil famílias.

A escalada rampa abaixo da taxa Selic vem ao lado de outra campanha, também empreendida pela presidente Dilma, contra os juros altos cobrados dos consumidores e empresas, esses sim, ainda mais absurdos, pois chegam – no caso dos cheques especiais e cartões de créditos – a inimagináveis 14% ao mês, e os descontos de duplicatas a em média 3% ao mês, quando a taxa real dos juros básicos não passa de 3,5% ao ano – ainda assim, sendo a maior do mundo.

É o caso de se perguntar como pôde o Brasil crescer nos últimos cinco anos com os brasileiros comuns pagando juros de agiota nos carnês de crediário e os pequenos e médios empresários sufocando-se na hora de descontar duplicatas ou contratar capital de giro. Para quem não tem acesso ao crédito subsidiado do BNDES, tocar um negócio em nosso país tem sido até agora coisa de herói.

Apoiamos o Plano Real, que acabou com a inflação, política que o governo de Lula manteve, e por causa disso os salários deixaram de ser corroídos, mas pouco se fala do fato dramático de que, ao tomarem crédito para comprar seus bens, os trabalhadores perdiam – para os bancos e financeiras – boa parte do que haviam ganhado. O dragão da inflação foi cruelmente substituído pelos vampiros do crédito.

As mudanças nas regras da poupança – que passará a ser corrigida por 70% da taxa Selic mais TR, quando a taxa Selic for de 8,5% ou menos – contaram com o apoio da Força Sindical não só porque não afetam os atuais poupadores (que continuarão a ser remunerados com TR mais 0,5% ao mês (ou 6,17% ao ano), mas porque permitirão que os juros continuem baixando.

A cruzada da presidente Dilma contra os juros cobrados pelos bancos também conta, é claro, com nosso apoio, e ela vai precisar mesmo dele, pois os donos dos bancos já começaram uma cantilena segundo a qual não podem baixar suas taxas por causa de impostos, inadimplência e uma série de outras causas, a maioria fantasiosas. O que eles não querem é abrir mão de parte de seus lucros.

O governo contará com nosso apoio nessa batalha, e mais ainda se, em seguida, dedicar-se às reformas – há tanto tempo reclamadas – que possam equilibrar as contas da Previdência (cujos beneficiários ainda sofrem com o famigerado fator previdenciário) e nos levar a outro sistema tributário e fiscal. O atual faz com que muitos paguem impostos demais, enquanto alguns poucos (os muito ricos) pagam muito menos, o que é obviamente injusto.

Não condicionamos nosso apoio à pauta trabalhista que estamos defendendo junto ao Congresso e ao governo, mas seria muito bom se a presidente aproveitasse sua enorme popularidade para mexer nas feridas que ainda nos impedem de ser um país de primeiro mundo.

Isso significa acabar com a guerra fiscal nos portos, que gera empregos lá fora e não aqui, fazer a reforma tributária, que trará justiça para os cidadãos e competitividade para as empresas, reduzir a jornada de trabalho para 40 horas semanais, que melhorará a qualidade de vida dos trabalhadores, tornar a Justiça acessível a todos, e não só a quem pode pagar bons advogados, combater a corrupção implacavelmente e seguir adiante na direção de nosso grande destino. Não é pouco – por isso é preciso começar.